Recentemente, devido a alguns problemas em um de meus computadores, resolvi instalar uma outra distro Linux, optando então pelo EndeavourOS.
Através deste artigo, tento fornecer uma espécie de “panorama geral” tanto a respeito da migração (algo bem simples, na verdade) quanto em relação à própria distribuição.
Obviamente, muito do que está aqui escrito se baseia em minha própria opinião pessoal. Mas vamos por partes.
Problemas e soluções
Utilizo quase que diariamente um notebook da Acer. Infelizmente, porém, problemas em seu HD de 2 TB (ele simplesmente “morreu”) me levaram a buscar alternativas.
Dessa forma, acabei optando por um SSD de 960 GB da Kingston (modelo SA400S37/960G). E creio até que este problema recente me ajudou, de certa forma.
Isto porque, como sabemos, um SSD é muito mais veloz que um HD tradicional. De forma resumida, tudo fica mais rápido em uma dessas unidades (que não possuem nem mesmo partes mecânicas).
Ou seja, a falha no velho HDD acabou me “obrigando” a optar por algo muito melhor. O sistema operacional agora inicia em pouquíssimos segundos.
Aplicativos e jogos são carregados de forma muito mais rápida e, em suma, não tenho do que reclamar.
Resolvi mencionar tudo isto para uma melhor contextualização e também para que você entenda melhor o problema que experimentei e a solução que encontrei (SSD + EndeavourOS): tudo isto me motivou a escrever este artigo.
O EndeavourOS
O EndeavourOS é uma distribuição baseada no Arch Linux. Além disso, uma parte de seu slogan é: “A terminal-centric distro” (Uma distro centrada no terminal).
De certa forma, basicamente é justamente isto que você encontrará ao instalar este (ótimo) sistema operacional.
Não existe nem mesmo um gerenciador de pacotes que rode através de uma interface gráfica, como o Pamac, por exemplo (vale lembrar que eu migrei do Manjaro para o EndeavourOS).
Esqueça lojas de apps, Software Center, etc (via GUI). Na distro que também é uma espécie de sucessora espiritual da finada Astergos, “o buraco é mais embaixo”.
Por outro lado, a distribuição também conta com o excelente gerenciador de pacotes Pacman (assim como o Manjaro e o próprio Arch Linux, por exemplo), o qual é bastante completo e rápido.
Um pouco da história do EndeavourOS
A distribuição Astergos (também baseada no Arch Linux) foi descontinuada em 2019, sendo que seus principais desenvolvedores disseram, na época, não terem mais tempo livre para mantê-la.
A partir daí, um grupo de usuários e desenvolvedores, também participantes de seu fórum, resolveram encarar a ideia de montar um novo projeto.
Liderados por Bryan Poerwoatmodjo, o grupo de desenvolvedores iniciou os trabalhos, lançando inicialmente o site oficial e o fórum.
A ideia era criar uma experiência muito próxima ao Arch Linux, e o EndeavourOS finalmente teve sua primeira versão lançada em Julho de 2019.
Sim, a distro é relativamente nova, porém trata-se de algo bastante maduro. De algo que sem sombra de dúvidas oferece uma experiência muito próxima ao Arch Linux.
Mas não se preocupe, pois dentre suas facilidades, o EOS possui um instalador em modo gráfico (Calamares), além de permitir a instalação de vários ambientes de desktop, de forma muito simples.
Tão logo foi lançado, o EndeavourOS recebeu o apoio de um grande número de usuários da antiga Astergos, o que acabou ajudando bastante, é claro.
Atualmente na versão Cassini Nova – 03-2023 R2, o EOS é também bastante leve, além de permitir que o usuário construa seu próprio sistema operacional com bastante flexibilidade.
Instalando o EndeavourOS
O instalador desta distribuição Linux é bastante amigável. Você pode inclusive utilizar o modo offline, que instala o ambiente XFCE, muito apropriado ao hardware mais antigo.
Porém, em minha opinião, o instalador brilha verdadeiramente em seu modo online. Aqui, várias opções interessantes, entre DEs e gerenciadores de janelas, estão à disposição do usuário:
- KDE Plasma;
- GNOME;
- Cinnamon;
- MATE;
- Budgie;
- LXDE;
- LXQT;
- i3-wm.
As opções acima são as oficiais, digamos. Porém, também existem as community editions, através das quais você também pode instalar as alternativas abaixo:
- Sway;
- Qtile;
- BSPWM;
- Openbox.
E para tornar tudo ainda mais completo (ou complexo), o instalador do EndeavourOS também permite que você instale a distro sem um ambiente de desktop. Ou seja, você pode personalizá-lo posteriormente, se desejar.
A distribuição também conta com suporte aos drivers proprietários da Nvidia, por exemplo. No meu caso, bastou selecionar a opção relativa aos drivers proprietários no momento do boot pela imagem ISO.
Através de uma das etapas da instalação, também é possível definir pacotes adicionais. Neste ponto, você também pode perfeitamente escolher mais de um ambiente e/ou WM.
O EndeavourOS oferece um excelente suporte às interfaces adicionais. Não há nenhum risco de “quebra” nem de conflito.
No meu caso, por exemplo, instalei o GNOME e o i3, sem qualquer problema. Além disso, alternar entre ambos é extremamente fácil e rápido.
Migração, ambientes de desktop e fim da instalação
É importante ressaltar neste ponto que o motivo da minha migração do Manjaro para o EOS diz respeito apenas a uma certa busca por uma “experiência Arch Linux mais pura”.
Não tive problema algum com o Manjaro KDE. Trata-se de outra excelente distro, também ótima para jogos no Linux.
Mas voltando à instalação do EOS, você também pode escolher systemd-boot ou GRUB como bootloaders. Particularmente, acabei optando pelo bom e velho GRUB devido ao fato de estar acostumado com ele.
Obs: apenas a título de curiosidade, há também a opção “no bootloader“.
Finalmente, uma vez que você fez as devidas escolhas no tocante a pacotes, ambientes de desktop, carregadores de inicialização, particionamento do disco, etc, o sistema começa a ser instalado.
Básico a princípio, com muitas possibilidades
Assim que você instala o EndeavourOS no computador, você tem em suas mãos um sistema bastante básico.
De fato, a ideia dos responsáveis pela distribuição é entregar um sistema operacional bastante sucinto a princípio, porém com altas possibilidades no tocante à customização.
Nem mesmo uma suíte de escritório é pré-instalada, por exemplo. Você recebe um “pacote básico”, com alguns poucos softwares essenciais, funcionando como um ótimo ponto de partida.
A distro coloca uma enorme gama de possibilidades nas mãos do usuário. Apesar de possuir alguns pacotes em seus próprios repositórios, o EOS oferece suporte aos repositórios oficiais do Arch Linux.
Além disso, o suporte aos repositórios AUR (Arch User Repository) é ativado por padrão, e a distribuição conta inclusive com o AUR helper Yay pré-instalado.
De fato, a instalação básica do EndeavourOS, ou seja, o sistema operacional que você tem em mãos logo após o término da instalação, é bem “econômica”, além de leve.
A partir daí, você constrói tudo de acordo com suas preferências e necessidades, e isto, para mim, é algo extremamente interessante.
Dentre os aplicativos pré-instalados, vale citar alguns bem interessantes, lembrando também que eu estou utilizando o GNOME como DE principal:
- Yay;
- Firewalld (habilitado por padrão);
- Thunar (gerenciador de arquivos, e apesar de já contar com o GNOME Files);
- Meld (uma espécie de alternativa ao comando
diff
);
- Qt Designer;
- GNOME Console.
Estes são os principais, digamos, e como você pode perceber, trata-se apenas de uma base para que você então molde o sistema de acordo com suas necessidades e preferências.
O kernel
O EndeavourOS geralmente oferece kernels mais recentes, além disso, e para quem joga no computador, como eu, isto é extremamente interessante (atualmente, por exemplo, a distro oferece o kernel 6.3.9-arch1-1).
Aliás, ainda em relação aos games (e mais precisamente, às placas de vídeo da Nvidia), a instalação do driver 535.54.03, disponibilizado no presente mês, também ocorre de forma suave, sem qualquer complicação.
Os jogos que eu mais aprecio foram instalados poucas horas após a instalação do EOS. Todos estão rodando sem problemas (via Proton), e até mesmo um “velho” controle do Xbox 360 (com e sem fio) foi reconhecido perfeitamente.
EndeavourOS: repositórios e AUR
O EndeavourOS oferece suporte aos repositórios oficiais do Arch Linux, além de seus próprios repositórios. Este detalhe por si só já garante grandes possibilidades no tocante à instalação de programas.
Mas outra vantagem da distro diz respeito ao suporte aos repositórios AUR, sendo que o Yay é uma das ferramentas pré-instaladas.
Dessa forma, se você não encontra determinado pacote através do comando pacman -Ss [palavra-chave]
, existem grandes chances de que você o encontre via yay -Ss [palavra-chave]
(comando que também busca no AUR).
Obs: obviamente, como se trata de repositórios mantidos pelos próprios usuários, você deve ter cautela, sempre inspecionar os arquivos PKGBUILD, etc.
Obs 2: em relação aos PKGBUILDs, vale dizer que, em suma, trata-se de scripts que contam com as instruções necessárias para a compilação de um pacote, por exemplo.
Mas através do trio Pacman + Yay + AUR, o usuário do EndeavourOS dificilmente terá dificuldade em encontrar aplicativos para instalação.
Além disso, também é possível trabalhar facilmente com pacotes Flatpak, por exemplo (e sem falar nos AppImage).
O próprio suporte aos pacotes Flatpak é inexistente, assim que você termina de instalar o EOS. Você é quem deve configurar este pequeno detalhe, para poder usufruir então dos tais pacotes universais.
Também neste ponto o usuário recém chegado é capaz de perceber o quão flexível é a distro, pois a partir de um sistema padrão bem básico, possibilidades quase infinitas estão apenas à distância de alguns comandos.
Particularmente, prefiro este modo de trabalho, esta visão. Assim, evita-se uma instalação “inchada” (sem falar em eventuais bloatware).
Agora, em relação ao Pacman, vale dizer que o gerenciador de pacotes é extremamente rápido em todas as suas funções.
E de forma similar ao que acontecia no Manjaro, executar o comando sudo pacman -Syu
é algo muito rápido e prático.
Atualizações frequentes
Aliás, recomendo que você atualize seu sistema com frequência, até mesmo para evitar problemas.
De qualquer forma, o EndeavourOS também é uma distro rolling release, ou seja, você faz a instalação apenas uma única vez. A partir daí, seu sistema estará sempre atualizado, recebendo constantes novidades e aprimoramentos.
Nesse sentido, também é importante ressaltar que a distribuição recebe novidades com enorme frequência.
Eu mesmo venho percebendo várias notificações diárias relacionadas a atualizações. Agora mesmo, acabei de rodar um update e notei inclusive novidades relacionadas ao PipeWire (e, sim, o EOS usa o PipeWire como servidor de áudio).
Ambiente de desktop: migrando para GNOME
Após alguns anos utilizando o KDE, resolvi voltar a utilizar o GNOME. Confesso que a experiência tem sido extremamente aprazível. Muito mais do que eu esperava, aliás.
O GNOME é muito mais consistente, pelo menos em minha modesta opinião, e apesar de muitos dizerem que ele é mais “pesado”, confesso que não senti nada disto.
Talvez, em parte, isto se deva à configuração desta máquina em especial, mas o fato é que o GNOME tem sido motivo de grande satisfação, além de possibilitar melhorias significativas em relação à produtividade.
Além disso, o aplicativo GNOME Tweaks ajuda bastante na customização. E o Extension Manager (Gerenciador de Extensões) é uma verdadeira mão na roda, capaz de buscar e instalar inúmeras extensões do DE.
E, claro, como eu adoro personalização, já instalei inúmeras extensões em meu GNOME, e gostaria até mesmo de indicar algumas delas:
- AppIndicator and KStatusNotifierItem Support: adiciona indicadores de apps no painel;
- Clipboard Indicator: um prático gerenciador de área de transferência;
- Dash to dock: transforma a dash do GNOME em uma dock, com vários recursos e opções;
- GSConnect: uma implementação do KDE Connect, especialmente para o GNOME Shell;
- Just Perfection: várias customizações e mudanças no comportamento e na interface;
- Temas: vários já instalados e testados, para o Shell, ícones, cursores, etc.
Trabalhar diariamente com o GNOME tem sido muito bacana. Aliás, devo também confessar que meu uso de vários anos do KDE talvez se devesse a uma espécie de “resquício” dos tempos em que eu ainda utilizava Windows.
Mas, claro, isto em nada desmerece o KDE. Trata-se também de um respeitado e valioso ambiente de desktop, que certamente agrada a uma enorme parcela de usuários do Linux.
Uma distro centrada no terminal?
O fato é que o EndeavourOS pode, certamente, ser centrado no terminal. Pelo menos, a princípio. Isto porque, por exemplo, nada impede que você instale o Pamac, através dos repositórios AUR.
Creio que um maior ou menor uso do terminal depende do perfil do usuário. Particularmente, sempre fui adepto de instalações e configurações via linha de comando, daí que não senti falta nenhuma de uma GUI, neste ponto.
Além disso, é possível minimizar alguns possíveis impactos disto tudo, através de alguns aplicativos desenvolvidos pela equipe da distribuição.
O “EndeavourOS QuickStart Installer“, por exemplo, é na verdade uma GUI que permite a instalação de inúmeros aplicativos de forma fácil e rápida.
Através deste software, que apresenta todos os aplicativos divididos em categorias, você pode instalar, por exemplo, o Telegram, o cliente de e-mail Evolution, o GIMP, o Inkscape, e até mesmo o suporte a Flatpaks (dentre inúmeros outros apps).
Já o “EndeavourOS log tools” é um programa para gerenciamento de logs, capaz inclusive de compartilhá-los via web.
O “EOS Update Notifier“, como seu nome deixa claro, serve para verificar a disponibilidade de atualizações, de forma periódica.
E o aplicativo de boas vindas (Welcome) apresenta conteúdo extremamente útil sobre a distro, bem como procedimentos essenciais após sua instalação (além de dicas e dados úteis).
Impressoras e ferramentas CLI
Se você precisa trabalhar com impressoras, por exemplo, vale lembrar que durante a instalação do EOS há a possibilidade de instalar o CUPS (sistema de impressão open source).
A partir daí, a adição de impressoras, bem como seu gerenciamento, é algo muito prático e rápido.
Por outro lado, e voltando a falar do terminal, há também a ferramenta Downgrade, que funciona via linha de comando e permite downgrades de pacotes em casos de atualizações problemáticas.
Finalmente, temos também o “Nvidia installer“, para fáceis e rápidas instalações de drivers proprietários para nossas placas de vídeo dedicadas.
Se você vai ou não usar o terminal de forma “pesada”, bem, isto depende bastante de você. Depende daquilo que você espera da distribuição, sendo que existem algumas maneiras de “contornar” este “problema” (como você viu acima).
EndeavourOS: quem deve usar?
Obviamente, dizer que determinada distro é adequada ao usuário X ou ao usuário Y, é algo muito complicado, até mesmo porque sempre esbarramos nas tais preferências pessoais.
Mas eu me arrisco a dizer que o EndeavourOS pode representar uma excelente alternativa ao usuário que deseja experimentar uma espécie de “Arch Linux mais amigável”, independentemente do fator “terminal centric“.
Sim, pois aqui você conta até mesmo com um instalador extremamente facilitado, e não precisa lidar com fstab
, por exemplo (ou com outras “tecnicidades assustadoras”).
O EOS também possibilita que diferentes usuários, com diferentes perfis de uso e necessidades, montem o “sistema operacional dos sonhos”, com flexibilidade e rapidez.
Tenho também comigo que o terminal não é sempre necessário no EOS, e alguns dos utilitários do GNOME que mencionei acima são grandes provas disso.
Mas, claro: se você não tem medo da linha de comando (e não deve ter), seja bem vindo.
Conclusão
O EndeavourOS é uma ótima distribuição Linux baseada no “temido” Arch Linux. Uma distro, porém, que alia facilidade de uso e recursos de ponta, desde a instalação.
Oferecendo inicialmente algo muito básico, apenas com o necessário para o funcionamento do sistema operacional, a distribuição pode ser bastante personalizada pelo usuário, de forma rápida e até mesmo intuitiva.
Além disso, a distribuição é estável e leve, e oferece uma quantidade considerável de opções no que diz respeito a ambientes de desktop, ferramentas e softwares.
E você, já testou o EndeavourOS? Aprecia o Arch Linux e/ou distros nele baseadas? Não hesite em deixar um comentário.
Até a próxima!
Gostei muito do EndeavourOS quando o testei meses atrás, mas confesso que na época, preferi permanecer no Manjaro.
Pouco tempo após testar o EOS, conheci o Archcraft (também baseado no Arch Linux) com Openbox e desde então tenho utilizado essa distro no laptop (continuo com o Manjaro XFCE no desktop). É uma distro leve, simples e bastante ágil. Principalmente pra quem curte WM (Window Managers).
Talvez eu anime em testar o EOS no meu desktop de testes no futuro, mas por ora, meu lado distro-hopper está em hiato! rsrsrs
Parabéns pelo excelente texto. 😉
Opa, muito obrigado, Samej. 🙂
E, eu não me esqueci do ArchCraft não, pode deixar…rsrs 😉
Olha, esse negócio de distrohopping é mesmo complicado. Mas, creio que finalmente encontrei uma distro que vai me “segurar”por um bom tempo.
Aliás, falando em Openbox, eu instalei o EOS + GNOME + i3. Mas confesso que o i3 me gera uma sensação no mínimo estranha…rsrs Talvez seja falta de costume, mesmo. É que vi muitas coisas legais sobre esses WMs, inclusive em relação ao i3. E, principalmente em relação aos recursos de “tiling window management”.
Grande abraço!
Pois é Marcos, os WM’s me atraem, mas são bem complicadinhos de lidar no início, a curva de aprendizado é bem acentuada.
Por isso curti o Openbox, que é bem mais tranquilo de lidar do que a maioria dos WM’s que testei (i3, Sway, Bspwm, etc.)
Olha só, é justamente o que me vem à cabeça quando parto para o i3…rsrs Vamos ver como isso progride, com o tempo e o uso.
Quem sabe eu também não dê uma chance ao Openbox.